sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sobre Filhos, Gravidez e Adoção...


Um dia ensolarado no meio de alguma semana no final de março, por volta das 17h. Algum banco da praça da 23, centro de Palmas, no Tocantins, no Brasil, no Continente Sul Americano, Planeta Terra.
- Ana, preciso te perguntar uma coisa...
-Pergunte...
-Quando eu casar, quero ter 10 filhos. Você topa?
-Uai! Topo, mas depois eu vou estar acabada e você vai ter que continuar comigo!
-Relaxa! Eu pago a recauchutagem.
-rs. Mas vamos fazer assim: A gente vai tendo filhos de acordo com as nossas possibilidades de criar.
-Claro, né?
-E outra coisa. A gente pode ter um ou dois nossos, e adotar o resto. Tanta criança nos orfanatos pra serem adotadas, precisando...
-Verdade! Eu topo!


Sim caros leitores, o cidadão me fez essa proposta. E claro que eu aceitei, sempre quis ter família grande.
Mas como eu já disse na conversa. Não vou ter 10 filhos, se só tiver condições de criar um ou dois. E também não vou por mais 10 crianças no mundo, sendo que existem milhares e milhares por ai, precisando de amor e carinho, um amor e um carinho que eu posso dar.
Acabo de ler um texto da jornalista Karen Gimenez (divulgado na revista Superinteressante, edição 180, setembro de 2002) onde ela fala sobre adoção. Algumas pessoas podem não concordar, por interpretar mal o texto (Observem que ela fala das mulheres que tem dificuldade de engravidar, e não das que ficam pouco tempo tentando, ou que nem tentam), mas eu concordo plenamente. Filho nascido da gente, a gente é “obrigado” a amar (não que não ame, ou que isso seja ruim), e filho adotado, a gente escolhe amar.
Segue a baixo o texto da Karen.
Leiam e reflitam.
Principalmente jovens, que ainda não tem filhos, que estão começando a pensar em constituir família, vamos continuar povoando o mundo? Ou vamos ajudar e amar as crianças que já estão nele, e que estão sofrendo?

Engravidar é um ato egoísta
Karen Gimenez

"É provável que minhas palavras incomodem as leitoras da Super que estão folheando a revista ao lado de seus rechonchudos bebês. Ou mesmo desperte a sanha dos cristãos mais fervorosos que lembrarão a célebre frase bíblica "crescei e multiplicai-vos". Acontece que, quando tal frase foi dita, a humanidade vivia num mundo completamente diferente. Ainda não havia recenseamento populacional preciso e a Terra parecia pronta para receber todos que aqui chegassem. Hoje, isso não é mais verdade. Dados internacionais mostram que há mais de seis bilhões de seres humanos sobre o planeta. O pior é que, em 2050, esse número deve saltar para nove bilhões. Ou seja: em pouco menos de 50 anos, adicionaremos no planeta a metade da população que temos hoje – e não custa nada lembrar que levamos cerca de 100 000 anos para atingir esse número.
Há vários motivos para essa explosão demográfica. Desde a desinformação entre os mais pobres até a irresponsabilidade de famílias de classe média. Independentemente do motivo, o fato é que a população cresce em progressão geométrica, aumentando os problemas sociais e gerando mais violência. Países como a China tentam aplicar o controle de natalidade. Mas o problema é mundial e precisa ser encarado de frente por todos. Não dá mais para se esconder atrás de dogmas morais ou religiosos, enaltecendo o dom da maternidade e o milagre de gerar uma nova vida.
Por motivos que estão mais ligados ao lucro do que a preocupações humanitárias, a ciência colabora com essa explosão populacional desenvolvendo, a cada dia, métodos de fertilização artificial. Mas por que, em vez de gerar cada vez mais crianças, não damos condições decentes às que estão abandonadas ou que são obrigadas a trabalhar em fornos de carvão? Em vez de promover métodos de fertilização artificial, por que não se promovem eficientes campanhas de adoção?
Países como o Brasil precisam abandonar posturas hipócritas que dificultam a adoção internacional. As nações ricas, que têm taxas de crescimento negativo, precisam de crianças. Já o Brasil, a Índia e a China têm milhares de crianças desamparadas. Por que, então, não facilitamos o caminho para que elas possam ser criadas por quem tem condições de dar-lhes uma vida confortável?
Infelizmente, a hipocrisia não é só do governo. É também de boa parte da imprensa e da população. As mulheres que passam anos fazendo tratamento para engravidar, gastando até dezenas de milhares de dólares, são consideradas, por boa parte das pessoas, heroínas. Tudo porque conseguiram gerar uma nova vida. Imagine o quanto seria útil se todo esse investimento fosse usado para educar crianças que já nasceram.
Depois de conversar com várias pessoas sobre esse tema, costumo ouvir os mesmos argumentos. O mais enfático deles é aquele que defende o desejo da mulher de gerar uma vida dentro de si. Não haveria nada, afinal, que substituísse o ato de sentir um novo ser crescendo dentro da barriga de uma mulher. Mas, ao seguir essa linha de raciocínio, o que a mulher busca, na verdade, é a auto-satisfação – e não seria exagero dizer que ela estaria mais preocupada em conquistar esse prazer do que pensando no bebê em si. Outra argumentação comum é a de que, ao adotar um bebê, não se tem a garantia de saber a origem da criança. Essa desconfiança parte da tese, sem fundamento, de que o filho de um criminoso pode se tornar um criminoso, mesmo que cresça cercado de carinho. Pelo que eu sei, os genes não garantem que alguém será um mau-caráter ou um cidadão exemplar. Até porque criminosos como Hitler e o "Unabomber" eram filhos legítimos de famílias consideradas normais.
Se a genética e o desejo de engravidar não justificam o repúdio contra a adoção, é possível concluir que o que as futuras mães querem é a garantia de que seus filhos terão um tom de pele próximo do delas. O desejo de engravidar a qualquer custo também tem seu lado racista. Até mesmo porque boa parte das crianças abandonadas que poderiam ser adotadas no Brasil são negras.
Num planeta cada vez mais desigual, uma mulher que investe em tratamentos para gravidez é, de certa forma, uma egoísta – assim como um casal que tem cinco ou seis filhos. Não têm qualquer preocupação com o futuro do bebê nem com o futuro do planeta. Essa mulher quer apenas provar para ela e para a sociedade que é capaz de cumprir uma falsa obrigação moral: engravidar num mundo cada vez mais cheio de gente.
"

Famosos dão exemplo:



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